Credit: Ruth Esther Mbabazi/IMF Photos

A inflação é um dos desafios mais prementes da África

O combate à inflação, paralelamente à sustentação do crescimento e à proteção dos mais vulneráveis, justifica o aperto cuidadoso e atento da política monetária.
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Marijn Bolhuis e Peter Kovacs

A África Subsaariana enfrenta um dos ambientes econômicos mais desafiadores em anos, marcado por uma recuperação lenta da pandemia, aumento nos preços dos alimentos e da energia e níveis elevados de dívida pública. Uma das questões mais prementes enfrentadas pela região é a necessidade de combater os níveis mais elevados de inflação em décadas — que são devastadores para a renda e a segurança alimentar — e, ao mesmo tempo, sustentar o crescimento econômico.

A mediana da inflação dos países da região atingiu quase 9% em agosto de 2022. Embora o aumento tenha sido menos acentuado do que em outras partes do mundo, e seus determinantes sejam diferentes, a inflação está praticamente no dobro dos níveis anteriores à pandemia, gerando o risco de instabilidade política e social e agravando a insegurança alimentar.

Apesar de uma recuperação no ano passado, os efeitos colaterais da pandemia mantiveram a atividade econômica relativamente contida na África Subsaariana, sendo esperada para este ano uma desaceleração no crescimento da região. A maioria dos países da região careceu de recursos para apoiar e estimular o crescimento, em nítido contraste com os países mais ricos ao redor do mundo, que puderam injetar trilhões de dólares em suas economias.

Na África Subsaariana, a inflação tem sido estimulada menos pela atividade interna do que nas economias avançadas. Ao contrário, os desdobramentos externos moldaram a trajetória da inflação desde o início da pandemia. Eles incluem a forte alta no preço das commodities globais, oscilações na taxa de câmbio, interrupções na cadeia de suprimentos e desastres naturais.

No caso dos alimentos, os preços dos principais produtos essenciais, como o milho e o trigo, aumentaram desde 2019, contribuindo com dois terços da inflação total nos estados mais frágeis e com metade no restante da região. O aumento nos preços globais da energia e o fortalecimento do dólar também alimentaram indiretamente a inflação, via transportes e produtos comercializáveis com o exterior, como utensílios domésticos. Em contrapartida, ocorreram aumentos apenas modestos nos preços de bens e serviços que refletem mais as pressões da demanda interna — os assim chamados “não comercializáveis” — que normalmente incluem os serviços produzidos localmente, como os setores de hospitalidade, saúde e educação.

Com os alimentos e a energia respondendo por metade do consumo das famílias na África Subsaariana, o custo de vida disparou em toda a região. O FMI estima que, até dezembro deste ano, 12% da população da região enfrentará insegurança alimentar aguda.  Dessa forma, muitos países recorreram a subsídios e redução de impostos para atenuar a pressão sobre a renda familiar. Embora sejam úteis no curto prazo, tais medidas devem ser tão bem direcionadas quanto possível para maximizar seu impacto e minimizar seus efeitos sobre orçamentos já extremamente apertados.

Os bancos centrais de região já começaram a aumentar os juros em reação à alta da inflação, bem como à fuga de capitais e à desvalorização de suas moedas resultantes do aperto da política monetária nas economias avançadas. Como exemplo, podemos citar Gana, Malavi, Moçambique, Nigéria, Uganda e as uniões econômicas e monetárias da África Central e da África Ocidental.

As autoridades monetárias também enfrentam um dilema crescente: elevar as taxas de juros para manter a inflação sob controle apresenta o risco de sufocar o crédito para investimentos, deprimir a atividade econômica e reduzir a renda da população. Enquanto isso, a consolidação fiscal e a desaceleração da economia global também pesam sobre a atividade econômica interna.

Isso significa que os bancos centrais devem proceder com cautela e aumentar os juros gradualmente, de forma a não colocar em risco a recuperação. Contudo, as autoridades econômicas também não podem ser complacentes: países onde as pressões da demanda interna são mais intensas, ou onde a inflação seja bastante elevada, podem precisar de um aperto mais rápido e decisivo. O mesmo se aplica a países onde a credibilidade da política monetária seja fraca ou onde a moeda esteja se desvalorizando rapidamente.

A coordenação das políticas pode ajudar. A consolidação fiscal tem um papel a desempenhar nos países onde a política monetária é excessivamente folgada, da mesma forma que uma combinação de aumento de juros e desvalorização cambial. Existem preocupações com a possibilidade de que a política monetária ainda seja excessivamente acomodativa, já que os aumentos dos juros não acompanham o ritmo da inflação.

Apesar de tais preocupações, combinada com o fato de que, até o momento, as pressões da demanda interna não tenha sido um determinante importante da inflação, a fragilidade da recuperação significa que as autoridades econômicas devem avançar lenta e firmemente nos próximos meses e, ao mesmo tempo, monitorar atentamente a inflação.

Este blog, que se baseia na edição de outubro de 2022 das Perspectivas Econômicas Regionais para a África Subsaariana, reflete contribuições adicionais de estudos de Seung Mo Choi, Samson M’boueke e Cleary Haines.

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Marijn Bolhuis é economista no Departamento da África do FMI. Seus campos de estudo incluem inflação, política monetária, comércio internacional, habitação e projeções com aprendizado de máquina. É Ph.D. em Economia pela Universidade de Toronto. Durante seu Ph.D., foi pesquisador visitante no Centro de Estudos de Economias Africanas da Universidade de Oxford.

Peter Kovacs é Economista na Divisão de Estudos Regionais do Departamento da África do FMI. Anteriormente, trabalhou na Comissão Europeia em políticas macrofiscais e gestão das finanças públicas, acompanhando os países da África Subsaariana. Antes disso, trabalhou em finanças públicas no Tribunal de Contas Europeu. Seus campos de estudos incluem políticas monetária e fiscal, sustentabilidade da dívida, financiamento do desenvolvimento e gestão das finanças públicas.

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